Autor(a): Zélia Gattai
Editora: Companhia das Letras
Ano de lançamento: 2009
Resenha:
Zélia Gattai marcou presença na literatura brasileira ocupando um lugar no qual poucos escritores encontram espaço: memorialista. Partindo de suas próprias experiências e memórias, a autora soube construir um universo literário sensível e abrangente. Por ter vivido intensamente e ao lado de personagens importantes da política e da cultura brasileiras, aproveitou esse vasto celeiro de recordações e aprendizados para compor a sua leitura de parte da história brasileira. Suas narrativas- memórias privilegiam um olhar feminino, mas não feminista, familiar e acolhedor, crítico e humorado. Assim é com este delicioso painel da São Paulo do começo do século XX, de imigrantes em especial italianos, e as suas dificuldades, alegrias e infelicidades, festas e costumes tradicionais a experiência anarquista desejosa de se implantar no Brasil. A Família Gattai é apaixonada, macarrônica, lutadora, exagerada e certamente ficará inesquecível para todos os leitores com suas lutas pela liberdade de pensamento, pela igualdade entre brasileiros e imigrantes e pelas incríveis brincadeiras das crianças.
Trecho do livro:
“A dois passos de nossa casa, numa bifurcação que separava a Consolação da Rebouças, entre a avenida Paulista e a alameda Santos, havia um enorme bebedouro redondo, de ferro trabalhado, onde os animais de carga saciavam sua sede. A esse bebedouro o pessoal do circo conduzia diariamente os animais de grande porte: elefantes, camelos, zebras e cavalos. Eu não perdia o espetáculo fascinante e gratuito. Adorava assistir aos elefantes enchendo as trombas da água para espirrar sobre a criançada.
Muitas vezes fui procurada e encontrada longe de casa, completamente desligada de tudo, feliz atrás dos palhaços, sem pensar na aflição de mamãe ao notar minha ausência.” (p. 47)
Para quem?
Para quê?