Quem lê? Helder Guastti
Conheça a história de Helder Guastti , assinante do Clube de Leitores A Taba, que criou um Espaço de Leitura em sua casa para compartilhar momentos repletos de cumplicidade e magia com os pequenos leitores de João Neiva (ES).
Filho de professora, Helder Guastti cresceu cercado por livros e frequentando a Biblioteca Municipal de João Neiva, no Espírito Santo.
Hoje, aos 29 anos, afirma que a literatura e a educação mudaram sua vida e que ele não poderia estar mais satisfeito!
Helder é um “professor confabulador”, como gosta de dizer, e está sempre pronto para compartilhar leituras – seja na sala de aula, no Clube da Leitura da hora do recreio ou no Espaço de Leitura que abriu em sua casa.
Confira nossa conversa com ele e suas dicas para incentivar as crianças a ler:
A Taba: Por que você lê?
Helder: Por mais clichê que possa soar esta resposta… eu leio para “viajar sem sair do lugar”. Nunca soube explicar ao certo o porquê do fascínio que sinto pelos livros e o universo das palavras, é algo inerente à pessoa que sou. Ler livros, quadrinhos, mangás, imagens… ler o mundo! Tudo me fascina de uma maneira tão intensa e profunda que me faltam palavras para descrever.
A Taba: Quando você era criança, costumava ler ou ouvir histórias de livros? Quem fazia os livros chegarem até você?
Helder: Minha mãe também é professora e em nossa casa, mesmo não tendo condições financeiras de comprarmos muitos livros, o universo literário sempre esteve presente. Em boa parte de minha infância minha mãe trabalhou nos três turnos (matutino, vespertino e noturno) e, ao invés de ficar em casa, muito de meu tempo livre passei na Biblioteca Pública Municipal de minha cidade. Eu emprestava vários livros e sempre os adorei. Também devo salientar que durante o Ensino Fundamental I tive excelentes professoras, que sempre me proporcionaram momentos fantásticos de leitura.
A Taba: Por que escolheu assinar o Clube de Leitores A Taba? O que mais gosta no Clube?
Helder: Acompanho o trabalho da Taba há algum tempo e sempre me encantei com o carinho e cuidado depositados em cada coisinha feita. É perceptível a sensibilidade utilizada na curadoria dos livros. A atenção aos detalhes durante os vídeos de discussão e dicas. Tudo isso me deixa maravilhado, pois, para quem é apaixonado por livros, encontrar outras pessoas que compartilham deste mesmo amor é sensacional.
A Taba: Como e onde é seu momento de leitura?
Helder: Ele acontece de várias maneiras. Tenho meus momentos individuais onde me aconchego num cantinho, de pernas para o ar e mergulho em minhas literaturas fantásticas (sou fascinado por histórias que envolvam magia e dragões e bruxas e reinos distantes).
Também tenho os momentos de leitura em meu Clube da Leitura, onde realizo a leitura de histórias em quadrinhos, de maneira voluntária, durante o horário de recreio na escola em que eu trabalhava. Os alunos e eu nos sentamos, geralmente numa graminha, isolados da correria constante, nos teletransportamos para o Bairro do Limoeiro e vivemos várias aventuras com a Turma da Mônica Jovem.
E, também, tenho os momentos de contação de histórias. Seja em visitas às escolas divulgando meu livro (onde conto histórias escritas/adaptadas por mim e me desdobro fazendo muitas birutices com os alunos), seja na praça, seja no Espaço de Leitura, na rua, na chuva, na fazenda… enfim! Sempre estou à procura de uma desculpa para sacar um livro de minha mochila e lê-lo em voz alta para os pequenos (e grandes também!).
A Taba: Para você, o que é mais interessante nos livros infantis e juvenis?
Helder: A magia. Os livros infantis são mágicos. Capazes de nos transportar a lugares inimagináveis e a fazer-nos sentir os mais diversos sentimentos, muitas vezes sem nos dizer nada escrito, apenas em imagens. Outras vezes somos levados a (re)pensar sobre nós mesmos, as dinâmicas e relações interpessoais que estabelecemos e vivenciamos, tudo isso de maneira sutil e lúdica. E isto é o que há de mais fantástico na literatura infanto-juvenil: a capacidade de fazer pessoas de todas as idades rirem, chorarem, se emocionarem e, acima de tudo, se amarem. Tudo isso tendo como fio condutor o relacionamento afetivo que os livros estabelecem entre aqueles que os manuseiam.
A Taba: Qual livro que mais gostou de ler? O que fez você gostar tanto dele?
Helder: Meu livro infantil favorito é Onde Vivem Os Monstros. Já perdi as contas de quantas vezes o li e contei a meus alunos. Tanto que na inauguração de meu Espaço de Leitura foi ele que escolhi para contar aos visitantes; devido a importância sentimental que ele tem para mim.
Onde Vivem Os Monstros, a meu ver, é excepcional por se tratar de uma história relativamente “simples”, mas, completamente complexa, tendo como base a criatividade e imaginação de uma criança, a história se desenvolve de maneira fantástica e é impossível não se apaixonar por Max e seus companheiros selvagens.
Sempre que o leio eu tento levar as crianças a perceberem que toda aquela gama de experiências e vivências extraordinárias vivenciadas por Max, personagem principal, se deram fundamentalmente por conta de sua própria mente. De seus próprios pensamentos imaginários. E isso é fantástico!
A Taba: De onde surgiu a ideia de abrir um espaço de leitura em sua casa?
Helder: Sabe, eu sempre “preguei” a meus alunos que eles devem seguir seus sonhos e pensar sempre em frente, esforçando-se ao máximo para realizar seus objetivos e metas de maneira prazerosa, mas, confesso que muitas vezes eu não aplicava esses sentimentos para mim mesmo.
Ainda bem que o mundo dá voltas, as coisas mudam e nós (graças a Deus!) mudamos, crescemos e evoluímos também. Hoje, aos vinte e nove anos de idade, posso afirmar que a literatura e a educação mudaram minha vida e eu não poderia estar mais satisfeito comigo mesmo! Me (re)encontrei enquanto professor e posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que sou muito feliz no que faço: um professor confabulador. Consegui unir as duas coisas que mais amo (crianças e livros) e seguir em frente, apesar de todas as adversidades impostas pela vida.
Me auto publiquei, inserindo minhas crianças em minhas histórias e, pouco a pouco, vou percorrendo minha estrada de tijolos amarelos, espalhando amor por onde for…
A Taba: Quais dicas você pode dar para quem quer incentivar as crianças a ler?
Helder: Faça com amor e tenha o afeto como “fio condutor” de toda e qualquer ação.
Os livros são instrumentos maravilhosos e capazes de mudar vidas. Estabeleça relações afetivas (positivas) com quem lê. Reserve um tempinho diário para sentar com seu filho/sobrinho/neto/aluno, prepare um cantinho especial. Dê o valor necessário à literatura. Não faça as coisas apenas por obrigação. Você só irá conseguir fazer uma criança se apaixonar pela leitura se você também for um leitor apaixonado. Não subestime as crianças: elas percebem tudo!