Cheiro de Letra e Praia
Crônica sobre a descoberta da leitura e dos livros por um grupo de pequenos leitores nas suas férias de verão.
Era praia, era sol, mar e vento.
era muita gente: família viajando junto.
era muita novidade.
Uma semana de casa cheia, convivendo com primos até então distantes. Um tempo feliz, quando passam de conhecidos de família a amigos.
De dia era a areia. Eram as ondas.
À noite, de banho tomado e pé sujo, eram perseguições de lanterna, jogo de cartas, desenho,
e eram livros.
Mas nada de “hora da leitura”. Cada história criava pernas e andava pela casa o dia todo, contada por variadas vozes. O mais novinho da turma, de um ano e meio, era o que mais puxava a fila: já acordava pedindo leitura, como quem pede leite.
Às vezes, era um adulto que acordava os livros. Começava contando pra um, e logo todos se amontoavam ao redor das palavras. Nunca quietos. Sempre acrescentando novas partes. Teve um dia que o barulho era tanto que abafou o som da novela, e os outros adultos cederam ao momento.
E teve leitura na cabana, leitura na mesa, no chão, no sofá, e revisitaram muitas e muitas vezes os três únicos livros levados… Mas a história de cada um sempre mudava, porque a cada vez que abriam as páginas, a brincadeira era outra.
E com história decorada, liam e liam sem saber que já sabiam ler.
E as histórias dos livros se misturaram à voz da mãe, da tia, do tio, do pai, da vó,
às muitas vozes criadas e gargalhadas nas variações de cada um.
e à alegria de estar com a vida em festa.
e ao sabor das muitas aventuras inventadas por eles mesmos.
E os dias se passaram. Os livros se gastaram, suaram de maresia.
Mas voltando pra casa, novas letras esperavam. A praia ficou lá, mas a paixão pela história veio na mala.
Só a TV, coitada, ficou sozinha num canto… virou móvel imóvel, criado mudo, apoiando a foto do mar lá no fundo, crianças na frente e risadas infinitas no primeiro plano do papel.