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História de bichos brasileiros – 5 anos

História de bichos brasileiros – 5 anos

Histórias de bichos brasileiros reúne oito contos recontados por Vera do Val e ilustrados por Geraldo Valério. Histórias marcadas pela tradição oral, já foram muito contadas de pais para filhos, de geração em geração.


BNCC – objetivos de aprendizagem e desenvolvimento

(EI03EF01) Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea), de fotos, desenhos e outras formas de expressão.

(EI03EF07) Levantar hipóteses sobre gêneros textuais veiculados em portadores conhecidos, recorrendo a estratégias de observação gráfica e/ou de leitura.

(EI03EF08) Selecionar livros e textos de gêneros conhecidos para a leitura de um adulto e/ou para sua própria leitura (partindo de seu repertório sobre esses textos, como a recuperação pela memória, pela leitura das ilustrações etc.).

Objetivos desta proposta

Espera-se que as crianças possam:

  • Apreciar a leitura em voz alta do professor e compartilhar impressões sobre o lido;
  • Observar certas características dos contos populares, a presença dos animais como personagens, do humor em certas passagens pelas ações inusitadas dos animais, das cenas muito próximas do cotidiano das pessoas, entre outros;
  • Ouvir a opinião dos colegas sobre os contos e comentar suas preferências.

A proposta – Leitura em voz alta pelo professor/a e conversa apreciativa

Histórias de bichos brasileiros reúne oito contos recontados por Vera do Val e ilustrados por Geraldo Valério. Histórias marcadas pela tradição oral, já foram muito contadas de pais para filhos, de geração em geração. Essa característica justifica que há diferentes versões para cada conto escrito e o diferencial é que os personagens são todos brasileiros, animais que vivem em nossas florestas, campos e cerrado. “A bicharada fala e ri, faz intriga e travessura, sente inveja e alegria, até parece gente.” Esse trecho que consta na quarta capa revela outra marca importante, a personificação dos animais, eles têm sentimentos, agem como humanos e a irreverência na forma de resolver os problemas enfrentados é um dos pontos altos do livro.

Lendo com as crianças

Para iniciar a leitura com as crianças, a exploração da capa pode ser uma forma de criar um clima gostoso para as propostas de leitura. Ao mostrar a quarta capa junto, é possível observar um animal em sua totalidade. Não é possível reconhecer ao certo esse animal, parece um boi, um cavalo, o mesmo acontece com os demais bichos presentes. No entanto, no interior do livro há novamente essas imagens, ao lado dos contos em que fazem parte, sendo possível outra aproximação e discussão.

Conte para as crianças que Vera do Val recontou essas histórias, para que elas comecem a compreender o que isso significa. Na introdução, Vera relata que se inspirou nas contações e leitura de histórias que seu pai e avô faziam, mas também fez menção a dois grandes escritores: Câmara Cascudo e Sílvio Romero. Ambos são as maiores referências da cultura popular brasileira, em um trabalho feito de coletar histórias contadas pelo povo, assim como fez os Irmãos Grimm, na Alemanha, e Ítalo Calvino, na Itália. Se a turma conhecer algum conto escrito por eles, retome e/ou apresente cada um e suas obras.

Como são muitos contos, organize uma rotina de leitura com as crianças de modo que elas possam criar expectativas para esse momento. Para cada conto lido é imprescindível abrir espaço para uma conversa em torno dos acontecimentos da história, das características dos personagens, de suas ações e reações, e também das impressões pessoais, o que mais gostaram, o que acharam engraçado, inusitado.

A festa no céu é o que abre a sequência de histórias e é bastante popular e, esse fato, pode ser interessante, uma vez que é possível confrontar as versões conhecidas. A forma como é escrito este conto também é um diferencial, cheia de detalhes e muito próxima da cultura brasileira. Vejamos um exemplo:

Depois do narrador contar que S. Pedro está organizando uma festa no céu, há um detalhamento de como foi a organização da festa:

“Encomendou comidas de todo jeito, desde vatapás, barreados, churrascos e até uma feijoadazinha que ele mandou fazer para os mais gulosos. As sobremesas eram uma delícia. Tinha pudins de coco, de leite, de laranja, de cupuaçu; não se esqueceu do doce de leite, dos papos de anjo, dos brigadeiros.”

Podemos notar que as comidas são tipicamente brasileiras e abrangem a diversidade das regiões do Brasil. O diminutivo em feijoada traz um toque de humor, sabemos que feijoada sempre é parruda, de grande volume e nem um pouco ligth; já as sobremesas, o que poderia ser uma longa enumeração, o narrador depois de uma lista já comprida de doces, ainda diz que S. Pedro não esqueceu de mais alguns. Essa riqueza na forma de contar o enredo pode ser destacado com os pequenos.

Neste conto é o sapo cururu quem vai à festa no céu. Em outras versões há outros animais, um dos mais conhecidos é o jabuti.  Esse é outro ponto interessante de conversa.  Tanto para esse conto como para os outros vale uma conversa em torno do que permanece e o que se modifica entre as versões conhecidas. Essas discussões contribuem para as crianças estabelecerem relações intertextuais, o que só é possível a partir de um repertório de leituras, o que favorece uma formação leitora mais consistente.

Outro conto que merece destaque é O macaco e a bala. Um simples ato, de pegar uma bala de dentro da cabaça, fez com que desencadeasse uma ação após a outra a fim de ajudá-lo a tirar sua mão enroscada. Primeiro foi ao ferreiro, pois se ele fizesse um machado poderia quebrar a cabaça, mas ao se recusar o macaco decidiu falar com o rei para este o ordenar a fazer o machado. Diante de sua recusa, foi a rainha para pedir ao rei pedir ao ferreiro fazer o machado. A repetição e os acontecimentos se acumulando permitem ao leitor antecipar facilmente o que pode acontecer. Essa sequência progride até chegar na Morte, que de mau humor, corre atrás do homem, que vai açoitar o boi…. numa volta ao que tinha acontecido desde o começo. O diálogo entre todos os personagens que o macaco procurou para pedir ajuda é uma das passagens mais interessantes para voltar e reler depois da leitura, se assemelha muito as parlendas que as crianças costumam brincar, como Cadê o toucinho que estava aqui?

O final é feliz! O macaco consegue tirar sua mão da cabaça e aprende a lição e nós, leitores, podemos nos divertir com as peripécias desse macaco trapalhão.

As ilustrações nesta obra não complementam o texto escrito na construção de sentido da história, mas são de uma beleza ímpar. Os animais são retratados com muita cor, que lembram a riqueza da fauna brasileira, de uma forma criativa, longe dos estereótipos.

Quando terminar de ler o livro, é possível perguntar:

  • Qual conto lido vocês gostaram mais? Por que escolheram esse conto?
  • Dos animais que apareceram nas histórias, quais vocês acharam mais atrapalhado? E o mais esperto? Qual preferem?
  • Se fosse escolher uma ilustração para ser colocada no mural da escola, qual seria? Por que escolheu essa?

Um desdobramento possível

Conhecer mais as obras de Câmara Cascudo e Sílvio Romero pode ser uma ótima oportunidade de ampliar o repertório literário das crianças. Uma roda de apreciação com alguns dos livros dos autores e a leitura em voz alta de alguns deles configuram como uma situação de aprendizagem. A partir disso, é possível organizar conversas que busquem comparar os textos conhecidos pelos personagens e suas características, pelos acontecimentos da narrativa, pelos detalhes da linguagem escrita, entre outros.