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História de bobos, bocós, burraldos e paspalhões – 3º ano

História de bobos, bocós, burraldos e paspalhões – 3º ano

História de bobos, bocós, burraldos e paspalhões traz a pesquisa do autor Ricardo Azevedo por histórias e novas versões de causos, anedotas e ditos populares que já ouviu ou leu ao longo de sua intensa busca por novos contos populares. Este livro é uma nova edição, de uma antiga publicada em 2001, cujo autor acrescentou dois contos e aproveitou os desenhos feitos com tinta nanquim e aplicou cores, deixando mais alegre e viva as ilustrações.


Habilidades da BNCC

(EF15LP15) Reconhecer que os textos literários fazem parte do mundo do imaginário e apresentam uma dimensão lúdica, de encantamento, valorizando-os, em sua diversidade cultural, como patrimônio artístico da humanidade.

(EF35LP04) Inferir informações implícitas nos textos lidos.

(EF35LP05) Inferir o sentido de palavras ou expressões desconhecidas em textos, com base no contexto da frase ou do texto.

(EF35LP21) Ler e compreender, de forma autônoma, textos literários de diferentes gêneros e extensões, inclusive aqueles sem ilustrações, estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.

(EF35LP26) Ler e compreender, com certa autonomia, narrativas ficcionais que apresentem cenários e personagens, observando os elementos da estrutura narrativa: enredo, tempo, espaço, personagens, narrador e a construção do discurso indireto e discurso direto.

Objetivos desta proposta

Espera-se que os estudantes possam:

  • Apreciar os contos populares e compartilhar impressões pessoais sobre o lido;
  • Observar e analisar os efeitos produzidos a partir de certas características dos personagens, dentre eles o humor;
  • Reconhecer o estilo de Ricardo Azevedo pelos traços nas ilustrações e pelas escolhas na forma de contar as histórias (características dos personagens, cenários, seleção lexical, o desfecho, etc)
  • Ouvir os comentários dos colegas e conseguir comentá-los;
  • Antecipar possíveis conteúdos do texto e selecionar contos preferidos.

A proposta – Leitura compartilhada e conversa apreciativa

História de bobos, bocós, burraldos e paspalhões traz a pesquisa do autor Ricardo Azevedo por histórias e novas versões de causos, anedotas e ditos populares que já ouviu ou leu ao longo de sua intensa busca por novos contos populares. Este livro é uma nova edição, de uma antiga publicada em 2001, cujo autor acrescentou dois contos e aproveitou os desenhos feitos com tinta nanquim e aplicou cores, deixando mais alegre e viva as ilustrações. Ricardo redimensionou por meio dos contos a ideia de herói que, em geral, no imaginário infantil é sempre aquele personagem inteligente, bonito, forte que enfrenta os maiores desafios destemidos de todo mal. Entretanto, neste livro, os heróis são os ingênuos, os que fracassam e fazem muita coisa errada. Essas trapalhadas são divertidas e provocarão muitas risadas no leitor. Por meio de um texto explicativo no final da obra, o autor conta que alguns contos se remetem a uma junção de episódios típicos dos heróis tolos, outros de anedotas populares e ainda há aqueles que o autor parte de uma narrativa completa conhecida e uma nova versão é escrita considerando a leitura feita por ele.

Lendo com seus alunos

Uma maneira de iniciar a leitura do livro é retomar com os estudantes os livros e histórias conhecidas de Ricardo Azevedo para trazer uma certa proximidade do estilo do autor. Caso não conheçam o autor, apresente-o, há informações sobre a vida e obra dele no final do livro e também em seu site www.ricardoazevedo.com.br

Ricardo é conhecido como um autor que traz como marca a cultura popular, as crendices e costumes do povo. Os personagens de suas histórias são pessoas simples, que moram em florestas, lugarejos afastados dos centros urbanos. O título e a leitura da capa podem trazer a dimensão do que irão encontrar nos contos. O homem sentado de costas no burro já provoca humor, o cenário alegre, as feições felizes dos animais, tudo corrobora para uma compreensão do título. O poema que abre o livro também pode contribuir para entender o que o autor chama de burraldos, sobre o erro e a sua relação direta com a condição humana.

Organize no seu planejamento a forma como vai integrar a leitura destes contos à rotina da sala de aula e reserve tempo para conversarem sobre o que as histórias suscitaram nos estudantes. Elabore perguntas que possam servir de apoio para provocar um diálogo e permitir que compreendam aspectos que considera cruciais. Quanto mais abertas forem as questões maiores serão as possibilidades de um diálogo genuíno.

Façanhas de Zé Burraldo é a história que coloca em jogo toda a capacidade de um personagem ser bobo. Ele é enganado várias vezes, passa por situações difíceis, mas não percebe e ainda se dá bem no final da história. Com a morte do pai, tudo o que lhe resta é um pouco de dinheiro e um burro. Uns espertalhões conseguem roubar seu burro e depois vendê-lo novamente para o Zé, dizendo que o animal era mágico. O personagem desconfia, mas compra e acaba ficando só com o burro. No decorrer da narrativa, ele acaba indo parar em uma peça de teatro. Sua ingenuidade faz um sucesso entre as pessoas da plateia, mas neste caso é importante que os estudantes compreendam que ele não havia entendido que se tratava de uma história, uma peça de teatro; Zé agia como se tudo o que acontecesse no palco fosse verdade. Essa informação não está explícita no texto, mas pode ser inferida pelas crianças. Tanto é ingênuo esse personagem que acreditou estar morto quando, na verdade, estava mais vivo do que nunca. Em seu velório, rumo ao cemitério, numa encruzilhada em que não sabiam para que lado ir, ele decide sair do caixão e dizer que o atalho era melhor. Todos se assustam e depois desse dia viveu ainda por muitos e muitos anos. Esse final feliz, a sequência de ações que revelam enganos e trapalhadas podem ser retomadas, discutidas na perspectiva da construção da linguagem escrita para que os alunos tenham a chance de apreciar para além das bobagens feitas pelo personagem.

Outro conto que promete agradar os leitores é João Bobão e a princesa chifruda. O título já gera um desconforto, uma curiosidade: por que a princesa tem chifres? Como surgiram esses chifres? Será que João vai conseguir tirar os chifres da princesa? Se ele é bobão, o que vai fazer para conseguir tal façanha? Durante a leitura do conto é possível ainda fazer algumas paradas estratégicas para as crianças anteciparem o que irá acontecer.  Uma possibilidade é quando apareceu a princesa pela segunda vez na casa de João e ele estava com a flauta mágica (página 56). O que vocês acham que vai acontecer? O mesmo pode ocorrer quando João recebeu de seu irmão o tapete voador e parou em uma ilha com a princesa para pegar fruta. Nesta ocasião, a princesa o deixou na ilha e foi embora. Como ele vai conseguir sair da ilha? Qual será o plano de João, bolado pela primeira vez em toda sua vida? (página 60)

Quando terminar a leitura, pode ser interessante voltar a trechos que são mais engraçados para rirem de novo e comentarem o que provoca o humor, e outra possibilidade de apreciação é observar a linguagem escrita empregada. O trecho abaixo se refere quando João come a maçã escura e nascem chifres na cabeça e costas:

Nasceram trinta e sete chifres em sua cabeça e outros tantos nas costas. João bobão ficou parecido com porco-espinho. Ou com cacto. Ou com uma espécie rara de paliteiro. O moço achou graça e saiu andando, cantando e dançando pela ilha. (p. 59)

A comparação estabelecida entre os chifres e o porco-espinho e o cacto são mais comuns, porém a uma espécie rara de paliteiro é um jeito de se expressar muito divertido porque compara os chifres a um objeto simples do cotidiano e ainda por cima em uma versão rara. Além disso, depois de ter ocorrido algo tão ruim com João, ele ainda sai cantando e dançando pela ilha. Buscar outros trechos que tenham chamado atenção dos estudantes pode ser uma maneira de apreciar a forma como o escritor tão belamente escolheu as palavras e expressões para construir os personagens e os acontecimentos da narrativa.

Em Chico Zoeira, para além da característica do protagonista, traz algo no enredo que remete bastante aos textos da cultura popular: versinhos rimados que compõem a narrativa. Criar uma melodia ou ritmo a partir dos versos pode ser uma forma interessante das crianças participarem da leitura. 

Quando todos os contos forem lidos, promova uma roda de conversa para comentarem impressões gerais da obra e certas características comuns:

  • Vamos retomar os protagonistas de cada história lida. Como são cada um? O que eles têm em comum?
  • Essas histórias são chamadas pelo autor de narrativas populares. A partir do que lemos, por que vocês acham que ele as denomina assim? São parecidas com os contos de fadas? O que fez vocês pensarem dessa forma?

No final do livro há um texto explicativo sobre cada um dos contos, pode ser interessante ler com os estudantes ou contar algumas das informações contidas ali.

Um desdobramento possível

Uma maneira de ampliar o conhecimento dos alunos sobre o autor é organizar uma roda com outros livros de Ricardo Azevedo para que os estudantes possam apreciar e ampliar seus conhecimentos sobre o estilo dele. Separe do acervo da escola livros que ressaltem a cultura popular: Armazém do folclore, Contos de bichos do mato, Contos e lendas de um vale encantado, Meu livro de folclore, No meio da noite escura tem um pé de maravilha são algumas das possibilidades.

Você pode apresentar os livros disponíveis e dividir os estudantes em pequenos grupos para que leiam um conto, uma anedota ou outros textos que compõem os livros para comentar entre eles e, em seguida, compartilhar com todos os colegas da turma. Um empréstimo para leitura em casa também pode ser uma ótima oportunidade de  leitura autônoma pelos estudantes.

A depender da quantidade de livros disponíveis no acervo da escola, você pode inserir outras obras da cultura popular e ampliar o conhecimento dos estudantes sobre o gênero literário.

Indicadores de avaliação

Ao longo das situações de leitura, alguns indicadores poderão nortear a observação e análises dos avanços de cada estudante em relação a certos comportamentos do leitor:

– Antecipam e formulam hipóteses sobre a leitura a partir de diferentes informações (ilustrações, paratextos, etc)?

– Participam das conversas expressando os efeitos que a leitura lhes produziu, a partir de uma resposta estética e pessoal?

– Comentam e selecionam trechos ou episódios de seu interesse e fundamentam suas preferências?

– Ouvem a opinião dos colegas e opinam sobre o que ouviram?

– Solicitam ao professor a releitura de passagens do texto com algum propósito específico?

Essas questões podem nortear a avaliação do desenvolvimento dos comportamentos do leitor de cada estudante e contribuir para reorientar a prática pedagógica de leitura.