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Ler com um bebê?

Ler com um bebê?

Ler com um bebê inaugura parte do campo da imaginação e fruição ao mesmo tempo que promove o vínculo afetivo.


A primeiríssima infância é um momento especial da vida. Além de ser o seu início cronológico, carrega em si a primeiridade: primeiro colo, primeiro alimento, primeiro sorriso, primeira palavra…

As experiências, todas fundantes, surgem ao mesmo tempo e no tempo do bebê. Eu explico: antes de andar, a criança pequena está rodeada por andantes. Antes de falar, os bebês estão imersos em sons… Um mundo novo e único a ser conhecido, afinal cada bebê é único e vivenciará as experiências a sua própria maneira.

Nesse ponto algo mágico acontece, ao mesmo tempo que o bebê precisa do outro para se desenvolver – física e emocionalmente – este outro precisa permitir que o bebê seja ele mesmo. Mesmo observando as pessoas andarem e ele precisa desse entorno, dará os primeiros passos quando for o momento para ele.

Bebês aprendem na relação, observavam nos outros os gestos, os sons, as imagens,  absorvendo-os e implementando na sua própria realidade para se relacionarem. O choro é um bom exemplo, bebês choram de formas diferentes para comunicarem o que querem: fome, sono, frio … Adultos disponíveis, reconhecem essas variações e iniciam um diálogo que pode parecer de outro mundo, mas é a língua desse início de vida.

Todos nós fomos bebês e nos comunicávamos pelos sons e movimentos. Todos temos dentro de nós o “eu bebê”.

Ser bebê é viver nos cinco sentidos e se expressar pelo movimento. Mas ser adulto também, não é? Sentir o cheiro da chuva, ouvir e rir de uma piada, abraçar espontaneamente aqueles que amamos são gestos naturais e primeiros.

Resgatar esta linguagem é criar a possibilidade do diálogo e permitir que o bebê se expresse como ele é, sem imposições ou desejos. Parece fácil, mas requer consciência e persistência afinal, socialmente, aprendemos a romper o “eu adulto” do “eu infância”, porém a Literatura pode contribuir nesse processo.

 A Literatura para infância transpassa barreiras e nos aproxima de nós mesmos atualizando a nossa linguagem infantil, incluindo a de bebê. Se essa leitura é feita em conjunto, gera a oportunidade de um diálogo genuíno.

Ao abrirmos um livro e lermos com um bebê, emprestamos nossa forma de ler, nosso sotaque, mostramos o que nos chama atenção e contamos sobre nós mesmos. Rimos de uma imagem engraçada, nos inspiramos com uma frase e, pouco a pouco naquele tempo do livro, somos bebês com o nosso bebê no colo. E, naturalmente, ambos (adulto-bebê e bebê) observamos a arte literária, cada um no seu tempo, mas ao mesmo tempo.

O contato com a literatura desde a tenra idade inaugura parte do campo da imaginação e fruição ao mesmo tempo, que promove um encontro genuíno entre adulto e bebê tendo como resultado o vínculo afetivo.

E afinal, o que aprendemos lendo com um bebê? Aprendemos a apreender.

Apreender que não somos só adultos: somos jovens, somos crianças e somos bebês. Apreender que bebês são capazes de apreciar a leitura literária. Apreender (de verdade) o que é o momento presente. Apreender a respeitar os nossos limites. Apreender a brincar com as palavras e com o corpo.

Apreender a ser humano.