Dicas de Livros | Blog A Taba
Livros de literatura na educação infantil

Livros de literatura na educação infantil

Qual o lugar dos livros de literatura na educação infantil? Adiantamos que deve ser um lugar bem especial, com a proposta de alimentar a imaginação, elemento indispensável para o desenvolvimento pleno do ser humano.


Sabendo que o ser humano está num contínuo processo de desenvolvimento e da importância do sensível e da imaginação para que ele ocorra, podemos pensar um lugar para os livros e para a literatura na Educação Infantil, considerando que essa vivência objetiva a ampliação das experiências infantis, alimentando repertórios – de imagens, palavras, narrativas – e possibilidades.

O livro A Casa Imaginária, da educadora, pesquisadora e promotora da leitura Yolanda Reys pode ajudar: 

“A literatura é uma fonte de nutrição a que a criança recorre em busca de ferramentas mentais e simbólicas para organizar o fluxo dos acontecimentos e situar-se e revelar-se e decifrar-se, também ela, na cadeia temporal instaurada na linguagem”.

O mundo do ‘era uma vez’ permite a experimentação simbólica onde a criança encontra e constrói sentidos. 

A leitura literária se realiza como um tempo e espaço reais que a permitem experimentar o que não é, o que desconhece e, exatamente por isso, amplia seus horizontes, lhe oferece metáforas para o que vê e sente, a ajuda a balizar o que quer e o que não quer, enfim, a ajuda a construir a si mesma.

Livros de literatura são estímulos à imaginação e sustentam momentos especiais como experiências de significação de mundo, portanto, indispensáveis na Educação Infantil.

Por que ler livros literários na Educação Infantil?

Todos são textos, mas… você percebe que há uma grande diferença entre ler uma receita de bolo, uma reportagem de jornal e um livro literário

Enquanto os dois primeiros prezam pelo conteúdo prático e utilitário, a última se realiza como uma expressão artística, no desejo de promover reflexões e sensações no leitor. 

Diferente da informação que pode ser a mesma para todos, reflexões e sensações são subjetivas e plurais, sendo assim, o texto literário supõe interpretações e apropriações variadas. 

Deste modo, fora aqueles que são estudiosos no assunto, quando um adulto escolhe um livro literário para ler, espera ter um momento de prazer – que chamamos de fruição artística -, assim como quando assiste a um filme, vai a uma exposição de arte ou a um concerto de música. 

O leitor não se aproxima do livro literário para aprender coisas de um modo objetivo, mesmo que a experiência leitora – como a do cinema, da exposição ou da música – possa promover inúmeros conhecimentos.

Não é para aprender? Por que buscamos o cinema, a arte, a literatura? Porque tais expressões humanas estimulam e acomodam nossas percepções sobre o mundo, pois elas ativam nossa sensibilidade e nossa imaginação, ou seja, nos fazem ir além do imediato, daquilo que é dado e promovem outras perspectivas. 

Muitas vezes, no processo de escolarização, as pessoas esquecem a importância da imaginação para o desenvolvimento humano, apegando-se aos resultados que o método científico criou: escolas ensinam as conclusões que os pesquisadores e intelectuais chegaram, não o processo de como eles chegaram a elas. 

Qual o resultado disso? O aprender se torna a repetição de uma verdade e acaba ocultando toda a imaginação e todo o erro que foram caminho importante na construção das ditas verdades.

É preciso lembrar, portanto, que a arte e a imaginação são elementos valiosos no processo de desenvolvimento, amparando nossa capacidade e habilidade de questionar e construir hipóteses, enfim, de ir além do imediato e do conhecido.

Hoje em dia, infelizmente, muitas escolas desconsideram a imaginação e o poético, fazendo um uso didatizado da Literatura

Esquecem que é uma expressão artística e a utilizam apenas como ferramenta para outra coisa, como construir uma história da literatura (o que é diferente de fruição literária) ou como exemplo para a gramática ou a análise sintática. A experiência poética, que é o sentido de ser literário, se esvai.

Mas, afinal, o que consideramos Educação Infantil?

Você sabia que a ideia de ‘criança’ é algo relativamente recente no mundo ocidental? A compreensão da infância como um momento particular da vida, distinto do mundo adulto, passou a existir mais ou menos a partir do século XVIII. 

Desde então, várias investigações sobre o desenvolvimento humano e a educação foram aprimorando compreensões e mudando referências sobre a maternidade, a paternidade, a educação e as escolas.

No caso do Brasil, tanto a Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 1996) – que estabeleceram o termo Educação Infantil para contemplar a primeira fase da educação básica (0 a 6 anos) – foram marcos de mudanças que definem o atual modelo educativo.

Antes dessa legislação, o sistema de ensino se iniciava na 1ª série e a creche e a pré-escola  – exibindo a antecedência à vida escolar – abarcavam o que hoje é a Educação Infantil

Essa divisão apresentava a ideia de que as crianças de 0 a 3 anos necessitavam de cuidados, o que lhes proporcionava a creche, e aquelas entre 3 e 6 iniciariam procedimentos mais voltados para o desenvolvimento cognitivo.

A inclusão dos bem pequenos no sistema de ensino resulta da visão de que o processo de aprendizagem se inicia na gestação, antes mesmo do nascimento, portanto, a escolarização passou a ser vista como algo contínuo desde a primeiríssima infância. 

Resulta também da ideia de que a criança é um ser sócio-histórico que aprende com o entorno social, portanto, a escola ganhou uma relevância, pois permitiria uma ampliação das experiências infantis.