O que são mitos e lendas?

Mitos e lendas são narrativas que atravessaram séculos e nos conectam com o passado e os saberes da oralidade. Conheça 10 livros sobre o tema.

20 de maio de 2022 ‧ 24 de maio de 2022

Leitura de 4 minutos

Para a literatura, mitos e lendas são um gênero textual. Para antropólogos e historiadores – por serem expressões de um modo de ver o mundo – são fontes de estudo sobre as sociedades que os criaram.

Para quem trabalha com literatura infantil, são manifestações artísticas e culturais que deveriam compor a trajetória leitora de todos, mas sobretudo de crianças e jovens, pois ampliam o repertório de referências que sustentam a humanidade desde seus primórdios.

Conhecer o mito da caverna de Platão, a lenda do Boto Rosa, o mito da criação japonês, o mito Massai da origem da vida e da morte, a lenda russa da Matrioshka – entre outros – é caminho importante quando pensamos em diversidade e criatividade, pois o acesso a múltiplas narrativas expõe variadas formas de pensar e de moral, proporcionando a identificação do mundo em sua pluralidade.

Mitos e lendas são majoritariamente narrativas da tradição oral que atravessaram séculos, portanto, acessá-los é estabelecer uma conexão com o tempo passado e com os saberes da oralidade. Conectam as crianças com gerações e mundos anteriores a elas.

Qual a diferença entre mitos e lendas?

Atualmente, os termos mito e lenda são usadas muitas vezes de modo equivalente, mas, elas foram criadas em épocas distantes, a partir de línguas diferentes e com propósitos distintos.

O mais antigo é o termo mito. Originária na Grécia Antiga, a palavra mythós possuía muitos significados, mas fundamentalmente era um ‘discurso’ ou uma ‘mensagem’. Já a palavra lenda deriva do latim medieval, desdobrando-se da palavra legenda, que remetia à ‘vida dos santos’.

Podemos ver, portanto, que, quando foram criadas elas não traziam o sentido atual que contrasta com a verdade, inclusive porque esses dois momentos não tinham a ciência como base para a verdade, mas sim a religiosidade.

As duas palavras trazem o sentido de narrativa, de contar algo especial, pois se referiam a acontecimentos inexplicáveis – como a ação da natureza – ou a pessoas extraordinárias – como os santos. O que descobrimos?

A humanidade sempre se esforçou em explicar o mundo e os caminhos para isso foram muitos, todos incluindo a força da imaginação.

Tanto a palavra de origem grega como a de origem latina traziam narrativas imaginárias, mas nenhuma das duas era percebida como mentira, muito ao contrário, as mensagens que traziam serviam de orientação para viver no mundo.

Quando o pensamento científico se tornou a referência da verdade é que tais narrativas mudaram de valor, sendo apresentadas como explicações falsas.

As sociedades que faziam uso delas na forma de explicar o mundo – como indígenas das Américas – foram vistas como inferiores e os grupos que assim faziam dentro da própria sociedade europeia – onde a ideia de verdade científica se desenvolveu -, passaram a ser vistos como ignorantes, presos a suas crendices.

Hoje em dia, os estudiosos questionam essa desqualificação para as duas formas de narrar. Primeiro, criticam a construção de uma hierarquia, entendendo que as diferenças culturais não podem ser avaliadas assim, como se uma cultura fosse mais verdadeira que outra.

Depois, porque identificaram que as sociedades ditas científicas também criam mitos, usando narrativas cheias de fabulação que nos fazem relacionar certas ideias, acreditar nelas e embasar o mundo contemporâneo. Ficou curioso? O livro Mitologias, de Roland Barthes (editora Difel), é só sobre isso.

Mitos, lendas e literatura infantil

As mães costumam brincar com seus bebês de esconder e aparecer e podemos ver a surpresa e o prazer que causam nas crianças, mas esses sentimentos estão espalhados em inúmeros outros momentos da vida infantil, porque resultam do descobrir o mundo: quando encaixam coisas sozinhos, quando descobrem sons, quando aprendem a acender e apagar luzes, coisas simples que nós, adultos, naturalizamos e deixamos de perceber ou valorizar.

Essa mágica da vida se desfaz pela objetividade e pragmatismo, presos ao ‘ter que’ do dia a dia. Mas ela não está perdida para sempre. Está disponível para qualquer um que se permita um tempo de observação, estranhamento e maravilhamento.

Sabemos disso, pois, basta nos encontrarmos com o poético de uma palavra, uma imagem, uma música, que nos percebemos olhando o mundo com outros olhos e, por instantes, recuperamos a surpresa e o prazer do bebê.

As palavras são um exemplo poderoso. Depois que aprendemos a falar, ler e escrever, a regra é fazer uso delas sem pensar.

Não nos perguntamos de onde ou como surgiram, se sempre foram assim.

Até sabemos que existiram acordos ortográficos que mudaram pharmacia para farmácia ou idéias para ideias, mas hoje em dia, especialmente depois que o latim deixou as escolas, não se pensa sobre o fato delas serem históricas, ou seja, que elas nem sempre existiram e que elas podem mudar de significado com o tempo.

Mas o melhor caminho para pensarmos sobre mitos e lendas é justamente recordar que as palavras foram inventadas num determinado tempo e espaço para expressar os pensamentos de um grupo e que o seu uso pelas gerações seguintes carregou as diferentes experiências que posteriormente foram vividas.

Vamos nos encantar com a fábrica de imaginação que são as perguntas? Olhar com estranhamento para o que parece óbvio e nos permitir a surpresa e o prazer dos bebês?

Mitos e lendas são referências de memória e de identidade e, por reconhecimento ou contraste, nos ajudam a compreender quem somos. Conectam crianças e jovens entre eles e os conectam com outros tempos e outras formas de ver o mundo.

Há muitos livros disponíveis com mitos e lendas de várias partes do mundo. Que tal ler com seu filho ou seus alunos para que se conectem juntos? Deixamos aqui algumas sugestões: