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O desafio da mediação: sobre tentativas e realizações

O desafio da mediação: sobre tentativas e realizações

“Acreditamos que o livro só faz sentido para as crianças na mediação se ele atravessa o leitor/mediador que, tocado por uma narrativa ou pelo objeto livro, é capaz de criar pontes e significados únicos no momento de partilhar a história.”
Confira o relato do educador Rafael Ribeiro Lucio sobre sua experiência como mediador do Espaço de Leitura.


No Espaço de Leitura somos privilegiados por uma arquitetura incomum: viveiros de pássaros se tornaram casas de livros; árvores decoram e preenchem o espaço; bichos soltos nos fazem companhia.
Mas nem tudo são flores e livros, e esses privilégios vêm acompanhados de algumas suscetibilidades desagradáveis. Estamos à mercê do tempo, e sobre ele não temos controle. Sem paredes nem teto, as copas das árvores fazem as vezes de telhado e cumprem bem o seu papel na hora de nos dar sombra, mas quando chove, elas não nos protegem.
No primeiro encontro dos leitores da Taba e do Espaço de Leitura, choveu. Mas conseguimos adaptar,- e, ainda assim, realizamos esse encontro inaugural.
Os três livros incríveis do mês de julho da Taba – para bebês, leitores iniciantes e leitores experientes – chegaram às nossas mãos e agora tínhamos a missão de escolher dois deles para mediar.
Acreditamos que o livro só faz sentido para as crianças na mediação se ele atravessa o leitor/mediador que tocado por uma narrativa ou pelo objeto livro é capaz de criar pontes e significados únicos no momento de partilhar a história.
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Quero meu chapéu de volta e Talvez foram os títulos escolhidos. O primeiro por ser divertido e surpreendente, e o segundo apresentou uma temática familiar, as formas geométricas e as suas mais variadas combinações, já estudadas em outro livro bem semelhante chamado Trocoscópio, de Bernardo Carvalho.
No dia 20 de agosto aconteceria o segundo encontro de leitores. Sim, no futuro do pretérito, porque não aconteceu. O tempo chuvoso do dia impediu qualquer realização de atividades. É realmente triste o fato de chover justamente quando temos um encontro tão planejado. Mas, no Espaço de Leitura, também celebramos a chuva. É um momento para a leitura dentro das casinhas ou de ficar ouvindo e vendo as gotas caírem nas árvores e no chão, pintando o parque de um verde mais escuro.
Reagendamos o evento para o dia 03/09, segunda tentativa para o segundo encontro. O dia não estava chuvoso, mas estava nublado, o público do parque era pequeno e não conseguimos formar um grupo para a mediação que aconteceria no lugar do programa maiúsculos & Minúsculos. A Terceira tentativa foi no mesmo dia às 15 horas, mas as crianças que circulavam com seus responsáveis eram pequenas e a mediação para o livro escolhido requeria uma faixa etária maior.
No domingo, após as tentativas do sábado decidimos tentar mais um vez. O grupo que se formava no Espaço de Leitura parecia ideal. E foi.
O livro tinha ganhado qualidade e corpo de segredo. Com as palavras todas encobertas a narrativa virou um mistério a ser desvendado. O texto das páginas foi escondido e só se via a ilustração. Essa escolha expandiu as possibilidades do desenrolar da história.
quero meu chapeuNos trabalhos educativos de mediação de leitura os objetos livros são transmutados pelos leitores/mediadores. O livro vira massa para tomar a forma que o grupo escolher e a narrativa fica livre para voar por onde quiser. A primeira forma que o livro Quero meu chapéu de volta tomou foi a escolha de um nome para o personagem principal, o urso, que ganhou o nome Ted.
Durante aqueles próximos minutos do encontro conhecemos uma história por dois prismas. A primeira versão foi narrada pelas crianças com a leitura das ilustrações: o coelho era dono do chapéu e o urso o tomava dele. A segunda versão foi criada com a leitura do texto em que descobriram que o enredo é o oposto: o urso tem o seu chapéu roubado pelo coelho. Esse era o segredo, a oposição, a reviravolta, um mesmo objeto abarcou duas histórias, mas que ainda assim fazem sentido juntas e habitam o mesmo livro.
Os adultos e as crianças ficaram deliciados com a história e eu, como leitor/mediador, também fiquei satisfeito, não só com a realização, mas também com as tentativas que pisotearam esse caminho e o resultado que foi uma troca generosa, leve e divertida.
Que venham os próximos encontros!
Nesse sábado, dia 17 de setembro, às 15h,  vamos conversar sobre os livros de agosto! E você, vem?