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Selvagem – 1º ano

Selvagem – 1º ano

Selvagem, de Roger Mello, é uma narrativa visual que leva o leitor a olhar por uma outra perspectiva. Um livro que vai gerar muitas conversas.


Selvagem é uma narrativa visual que leva o leitor a olhar por uma outra perspectiva. Podemos afirmar que essa frase tem um duplo sentido. Primeiro porque em certa passagem da história o ângulo que a gente vê se modifica na própria ilustração, deixamos de ver um lado do cenário para olhar outro, o que fica atrás do retrato, o mesmo em que o tigre foi colocado. Segundo porque a princípio vemos pelos olhos do caçador e passamos depois a olhar pelos olhos do tigre.

O que essas mudanças acarretam na construção de sentidos? Como o leitor sabe da mudança de perspectiva?

Roger Mello é um dos ilustradores brasileiros mais renomados, o único a conquistar o grande prêmio internacional de literatura Hans Christian Andersen. Tem uma vasta obra como escritor e ilustrador e conta mais sobre o que o inspirou na produção deste livro imagem, no abaixo:

Habilidades da BNCC 

(EF15LP15) Reconhecer que os textos literários fazem parte do mundo do imaginário e apresentam uma dimensão lúdica, de encantamento, valorizando-os, em sua diversidade cultural, como patrimônio artístico da humanidade.

(EF15LP19) Recontar oralmente, com e sem apoio de imagem, textos literários lidos pelo professor.

(EF01LP26) Identificar elementos de uma narrativa lida ou escutada, incluindo personagens, enredo, tempo e espaço.

Objetivos desta proposta

Espera-se que os alunos possam:

  • Apreciar o livro imagem a partir de um olhar aguçado para analisar e se surpreender com os detalhes;
  • Voltar a certas passagens da história para apreciar, compreender melhor e relacionar com o que vem antes e depois no enredo;
  • Comentar suas impressões a respeito dos acontecimentos da narrativa visual;
  • Conhecer mais o autor;
  • Ouvir as ideias e impressões dos colegas e relacionar com o próprio ponto de vista.

A proposta – Leitura compartilhada e conversa apreciativa sobre o livro “Selvagem”, de Roger Mello

Lendo com seus alunos

Vale destacar logo no início dessa orientação a importância de ler um livro imagem sem criar uma narrativa verbal, visto que as ilustrações já apresentam uma história criada pelo autor. Por esse motivo, a ideia é mostrar as imagens e escutar os comentários que as crianças vão fazendo, propor algumas perguntas que ajudem a observar certas cenas, a troca de perspectiva, algo que possa contribuir para a compreensão leitora. 

A guarda inicial do livro “Selvagem” (a página dupla que vemos assim que abrimos o livro) já apresenta muitos elementos para discutir: há várias imagens de animais, alguns mais reais outros com formas semelhantes aos bichos que conhecemos, porém com cores e estampas diferentes. Interessante notar que tem um espaço vazio, algo fora retirado dali ou está para ser preenchido. No final da leitura, vale observar a guarda que consta no final do livro, pois apresenta os mesmos animais com um cartão no espaço que estava vazio. Ali consta o caçador. Podemos, nesse momento, retomar certas passagens da história, justamente em trechos que evidenciem a troca de perspectiva, do lugar em que o tigre sai do porta-retratos e o caçador entra nele. 

Assim que se inicia a história há muito para ser explorado nas imagens. Há um homem vendo um livro ou mais provavelmente um álbum de fotos, com um retrato de um tigre, será o mesmo que aparece na capa? Quem será esse homem? O que podemos saber sobre ele? Onde ela está? Pelo cenário parece estar dentro de uma casa, talvez em uma sala de estar ricamente ornamentada com tapetes, espelhos, abajures. Na mesa há um porta-retratos sem foto, um livro muito conhecido de Kipling, chamado Livro da selva, um chapéu e um envelope. Vale destacar que Kipling foi um grande autor e poeta britânico e foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, em 1907.

Vale notar que a cor que mais se destaca na ilustração é o da imagem do tigre. Será uma foto? O homem a tirou do álbum ou vai colocar nele? Nesse momento, os alunos podem comentar suas impressões e, sobretudo, levantar hipóteses a respeito do que pode acontecer. 

Nas páginas seguintes vemos o homem saindo em viagem, devido as malas. Ele coloca a imagem do tigre no porta-retratos e, a partir do momento que vai saindo e sua imagem começa a desaparecer de cena, há uma mudança na posição do tigre, ele se levanta. Você não precisa informar isso, o ideal é que os próprios alunos vejam essas transformações e, para isso, pode ser importante voltar algumas vezes para a página anterior e poder comparar. 

Uma passagem crucial da história é quando nós, leitores, começamos a ver a casa de um outro ponto de vista, e isso fica evidente devido ao próprio porta-retratos, vemos agora a parte de trás. Isso gera um certo incômodo porque não sabemos onde está o tigre. Ao virar a página podemos vê-lo andando pela casa. O que vai acontecer? Como ele saiu do porta-retratos? Sempre potente antecipar os acontecimentos da história e verificar depois, assim mobilizamos certas capacidades de leitura imprescindíveis para a formação do leitor. 

Outro ponto estratégico e fundamental de discutir é quando aparece no porta-retratos a imagem do homem com uma espingarda. Quem é esse homem? É o caçador que ficou preso? Quem o colocou ali? Era o mesmo homem do início da história?

Pode ser muito interessante surgir na conversa perguntas que não apresentam uma única resposta e, portanto, serem muito debatidas entre as crianças. O inesperado é o que torna o livro surpreendente. 

O final também dá margens para muita reflexão. O tigre parece entrar no espelho. O caçador se movimenta, será que ele vai conseguir sair dali? Ele olha para o lado e nos passa uma impressão de que ele está vendo algo, será o tigre que entrou no espelho? O que será que vai acontecer?

“Selvagem” é um livro que merece ser retomado várias vezes para voltar a passagens que podem gerar mais discussões. Não se espera que as crianças tenham uma conclusão única para o que acontece com os personagens da história e sim que possam imaginar possíveis acontecimentos de acordo com as ilustrações. Acolha as impressões e respostas das crianças a respeito da narrativa e peça que destaquem o que mais chamou a atenção delas. 

Um desdobramento possível

Sabemos da importância das crianças em recontarem histórias conhecidas, mas vale frisar que a proposta sugerida aqui não é a de criar uma história porque ela já existe na narrativa visual, a ideia é desafiá-las a pensar como contariam essa história para outras crianças que ainda não a conhecem. Acrescente ainda o desafio de pensarem que não teriam o apoio da imagem. O exercício seria, portanto, contar empregando uma linguagem ajustada a história e ao léxico pertinente destas narrativas. Uma situação potente seria comparar a linguagem empregada quando duas crianças narrarem a mesma passagem da história de jeitos diferentes, se forem pertinentes, valide ambas para mostrar que há várias formas de emprego da linguagem literária. Crie um clima propício para se arriscarem nessa aventura e para apreciarem a fala dos colegas. 

Indicadores de avaliação

Ao longo das situações de leitura, alguns indicadores poderão nortear a observação e análises dos avanços de cada estudante em relação a certos comportamentos do leitor:

– Antecipam e formulam hipóteses sobre a leitura a partir de diferentes informações (ilustrações, paratextos, etc)?

– Participam das conversas expressando os efeitos que a leitura lhes produziu, a partir de uma resposta estética e pessoal?

– Comentam e selecionam trechos ou episódios de seu interesse e fundamentam suas preferências?

– Ouvem a opinião dos colegas e opinam sobre o que ouviram?

– Solicitam ao professor a releitura de passagens do texto com algum propósito específico?

Essas questões são as mesmas apresentadas anteriormente, o que vale observar se houve ou não mudanças em relação as leituras já feitas, para analisar o progresso do desenvolvimento dos comportamentos leitores de cada estudante e poder assim contribuir para reorientar a prática pedagógica de leitura.