Fluência leitora: ler rápido é ler bem?
Ler muitas palavras rapidamente, nem sempre significa ler bem. Saiba mais sobre o que é fluência leitora e como desenvolvê-la com suas crianças.
Ter fluência leitora é uma habilidade fundamental nos tempos atuais, onde somos bombardeados todos os dias com dezenas de informações, nem sempre relevantes ou verdadeiras.
Como nos apropriarmos de todo conteúdo que acessamos? Será que realmente compreendemos tudo aquilo que lemos? E como podemos ajudar as crianças a aprenderem a ler cada vez mais e melhor?
Aprender a ler é muito mais do que reconhecer as letras
Bons profissionais de educação sabem que o reconhecimento das letras é uma parte importante do processo de alfabetização.
Mas, não basta apenas saber qual símbolo representa cada som para tornar-se um leitor. Esse é apenas o início de uma longa e fascinante jornada de aprendizagem.
Para ler bem, é preciso construir um sentido para os textos que circulam socialmente e com os quais temos contato em nosso cotidiano. Só assim é possível desenvolver a fluência leitora.
Ler rápido nem sempre significa ler bem
Para entender como isso é verdade, leia a frase abaixo:
O nefelibata encontrou-se com o anacoreta e, juntos, travaram um conciliábulo a respeito do azo que lhes assomou.
É provável que você tenha sido capaz de pronunciar as sílabas de cada uma das palavras. Mas, será que realmente entendeu o que estava escrito?
É por isso que dizemos que ler não é apenas decodificar. Para entender um texto, é preciso ir além do som das sílabas ou do conhecimento das palavras isoladamente. É necessário ter acesso a textos que circulam socialmente e que, portanto, façam sentido para o leitor. E, para isso, a compreensão do que se lê, é fundamental.
Ler só palavras isoladas, de uma lista sem sentido, não forma um bom leitor. Não adianta uma criança ser capaz de ler 60 palavras em 1 minuto se ela não for capaz de compreender o que lê.
Fluência leitora é compreensão leitora
Um leitor fluente é aquele que compreende o que lê. E a compreensão passa pelo entendimento do texto e seus usos. Passa também pela capacidade de entender o que está sendo dito e o que não está sendo dito. O famoso “ler nas entrelinhas”.
Se pararmos para pensar, hoje em dia lemos muitas informações a todo momento, em diferentes suportes. Um bom leitor não é só aquele que lê esses conteúdos e os compartilha. Mas, sim, aquele que desconfia do texto, que estabelece relações, que reconhece algumas características do que está lendo e analisa, pensa, tira conclusões.
Como ajudar as crianças no desenvolvimento da fluência leitora?
Primeiro, é preciso dar acesso a bons textos. Livros que apresentem boa linguagem, que ajudem a ampliar o vocabulário e, principalmente, que abram espaço para boas conversas.
Por isso, é tão importante ler junto. Mesmo quando elas já são capazes de decifrar as palavras sozinhas.
Mas, só ler não basta. É preciso conversar sobre aquilo que se leu. Isso não significa terminar a leitura e disparar a famosa pergunta: O que você entendeu do texto?
Essa pergunta, abrangente, mais intimida do que abre espaço para conversa. Aidam Chambers, escritor inglês, em seu livro “Dime”, apresenta três aspectos fundamentais para uma boa conversa depois da leitura:
1) Compartilhar o entusiasmo.
Se o livro mexeu com você, conte o porquê e pergunte à criança se ela se sentiu tocada também. Aqui vale, inclusive, dizer que não gostou e explicar os motivos.
2) Compartilhar a construção de significados.
Voltar a algum trecho, tentar entender o que aconteceu, observar as ilustrações.
Em um bom texto, é preciso realizar muitas leituras para construir sentidos. Às vezes, nem sempre percebemos todas as camadas de um livro. Por isso, em uma boa leitura, há sempre espaço para novas descobertas.
3) Relacione o livro a outras obras conhecidas.
Depois de terminar a leitura, tente se lembrar de outros livros que vocês conhecem e que se parecem com este. Ou mesmo algum filme que de alguma maneira conversa com a história que você acabou de ler.
Os bons livros nunca terminam em si mesmos. Eles sempre se conectam a outras histórias. E descobrir essas relações pode ser uma deliciosa aventura.
Uma última dica: Leia em voz alta
Quando um adulto ou leitor mais experiente empresta sua voz e sua competência leitora para fazer com que um texto seja apreciado por uma pessoa que ainda não domina a habilidade da leitura, isto é um ato de amor. Ao ler em voz alta, não estamos apenas compartilhando uma história, mas também nosso tempo e nossa vontade de estarmos próximos daqueles com quem vivemos essa experiência.
É por isso, que ler em voz alta é uma ótima estratégia para melhorar a compreensão de um texto. Especialmente nos textos com muitos diálogos, como as peças de teatro. Isso porque para ler com boa entonação e ritmo, é preciso entender o que está escrito.
Quando a criança ainda não saber ler sozinha, ouvir a leitura em voz alta feita por um adulto, ajuda a compreender o texto e a desenvolver a fluência.
E quando ela já sabe ler, brincar de ler em parceria é muito divertido.
Escolham um texto e dividam os papéis. Cada um pode ler um trecho.Façam deste momento uma brincadeira.
Tenho certeza de que não só as crianças, mas os adultos também poderão descobrir ou redescobrir que a leitura, quando realizada junto de alguém que se ama, é um poderoso instrumento de conexão entre as pessoas.