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O portal Era uma vez…

O portal Era uma vez…

Diante de livros criativos, fofos e até politicamente corretos fica a questão: que portal é esse do ‘Era uma Vez’ que segue nos fascinando?


O que é para você um portal? Para alguns pode ser a entrada de uma cidade, para outros pode ser um espelho, um armário aberto, mas há aqueles cujo portal está na sonoridade do Era uma vez…

Três palavrinhas e cada uma carrega a enigmática força de três letras (os estudiosos afirmam que o número 3 tem uma simbologia poderosa nos contos de fadas) e ao ouvir somos transportados para um mundo mágico.

Tal qual uma floresta, esse local para onde somos levados pode ser denso, selvagem, assustador e nem por isso deixa de nos encantar.

Os contos de fadas, originalmente, não foram escritos para crianças, na verdade o próprio conceito de criança era outro em tempos tão remotos. Havia passagens aterrorizantes, com extrema violência, incesto e palavras de duvidosa interpretação ao gosto dos seus “coletores” mais famosos o francês Charles Perrault (séc. XVII), os alemães Irmãos Grimm (séc. XIX) e o dinamarquês Hans Christian Andersen (séc. XIX).

Cada qual em seu tempo, ao seu modo e com suas motivações eternizaram as histórias narradas pelos camponeses e sua ancestralidade de servidão. Cada um também tem uma história pessoal digna de contos de fadas, embora a História insista em esconder o trabalho das “Preciosas” como ficaram conhecidas as escritoras que antes de Perrault já registravam os contos populares narrados por suas cozinheiras e criadas da casa. O que demonstra que ainda há muito a explorar nesse território de encantamento.

Mas na atualidade, diante de tantos livros criativos, “fofos” e propostas higienizadas das mais diversas origens que caminham ao sabor das ideologias políticas, do politicamente correto ou até mesmo da filosofia vegana, ainda fica a questão: por que os contos de fadas ainda fascinam crianças e adultos?

Talvez porque tragam o conforto de um final feliz, com príncipes e princesas radiantes de vida, mas nem todos são assim. Andersen, por exemplo, abusava da ironia e abordava temas como a morte, ou muitas vezes finais tristes e, nem por isso, afastava os leitores.

Talvez porque tragam uma fada com uma solução mágica (e como desejamos uma fada com a poderosa varinha de condão em nossas vidas, não é?), mas nem todos têm essa fórmula pronta e muitos contos fazem uma referência à esperteza, ao esforço e merecimento com uma pitada de humor.

De fato, há muitas razões misteriosas para esse encantamento, essa passagem pelo portal do Era Uma Vez…, pois ano após ano as histórias sofrem adaptações, polêmicas ideológicas e estudos nas mais diversas áreas, mas parecem nunca saírem de moda, apesar dos tempos líquidos que vivemos nos alertarem que nada é permanente.

E como reza a sabedoria popular dos contadores de história: quem conta um conto aumenta um ponto… assim ler, reler e ficar atento às diferentes formas narrativas, ilustrações e propósitos de edições, até na aparente ingenuidade dos contos de fadas é mais do que nunca importante e urgente.