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Uma conversa literária sobre Malala

Uma conversa literária sobre Malala

O livro “Malala, a menina que queria ir à escola” rendeu uma conversa literária no Clube de Leitores A Taba muito especial. Saiba mais!


Chegou o momento de colocar em prática todos os saberes aprendidos por meio dos estudos sobre o tema “Mediação de leitura” com o Programa de Formação de Mediadores de Leitura da A Taba, do qual faço parte desde 2022. Era hora de planejar uma conversa literária para a roda de leitura do livro “Malala, a menina que queria ir para a escola”, escrito por Adriana Carranca, ilustrado por Bruna de Assis Brasil, que os assinantes da categoria Experientes do Clube de Leitores A Taba receberam em abril de 2023.

Antes de dar início ao planejamento, muitos questionamentos se passaram pela minha cabeça. Mas, enfim, planejamento feito, é hora de ler a obra! Entretanto, surge um dos meus primeiros desafios: como conduzir uma roda de leitura com base em um livro-reportagem. E, agora? Como mediar a leitura de um livro fruto da reportagem de uma jornalista que conheceu de perto, em sua visita ao vale do Swat, a história de uma menina paquistanesa, que desde muito pequena tinha como seu maior sonho estudar?

Então tive uma ideia! Para começar, visei conhecer as principais características do Paquistão: a localização, a vegetação, a fauna e os costumes mais importantes. Esses temas, além de ampliar o conhecimento das crianças no momento da roda, com certeza iriam despertar a curiosidade e proporcionar muita troca de ideias entre elas.

E quanto ao vocabulário do texto? De-sa-fi-a-dor! Ao mesmo tempo, pensei: é uma riquíssima oportunidade de aprendizado, já que a roda de leitura on-line é assistida por crianças de todo o Brasil e até de outros países! Assim, ao passo que lia a história, apresentava o vocabulário, fazendo intervenções, permitindo aos leitores participantes estabelecerem comparações entre as variações linguísticas que constituem o nosso país.

Planejamento pronto, ideias a todo vapor, levantamento de um riquíssimo vocabulário a ser explorado, realizado. Tudo encaminhado, mas ainda havia um ponto desafiador para explorar essa narrativa com perfil jornalístico: texto parrudo e escassez de tempo.

Para alcançar o objetivo da roda de leitura, primeiro selecionei os principais trechos do livro referentes ao vale do Swat, onde a paquistanesa vivia, a Malala, à sua família, à escola, às suas amigas, às suas disciplinas prediletas, à sua música, aos seus livros, aos seus programas preferidos, aos medos, às alegrias, ao dia do atentado e como vive atualmente.

Em seguida, elaborei perguntas de intervenções com o intuito de interagir e permitir que as crianças se sentissem inseridos ao longo da leitura:

Quem é Malala? O que será que ela tem de tão especial? Já ouviram falar em Paquistão? E no Talibã?  Alguém sabe o que é ativismo? Dupatta ou shawl? E mahram?

O que a autora quis dizer com “ao atravessar o pequeno e discreto portão de madeira, as meninas do vale do Swat se transformavam, como se aquele fosse um portal mágico”?

Após o atentado, ela mergulhou em um sono profundo e ao acordar fez um pedido, o que será que Malala pediu? Enquanto dormia, sua vida mudou, quem gostaria de comentar?

O meu propósito era o de permitir às crianças atribuírem sentido ao texto e, principalmente, motivar a conversa em nossa roda literária de forma crítica e consciente sobre a história da personagem e o contexto histórico da narrativa, pois, para a pesquisadora argentina Cecilia Bajour:

“Pensar nos textos com antecedência é imaginar perguntas, modos de apresentar e adentrar nos livros, estratégias de leitura e possíveis pontes entre o texto e o leitor”.

Ouvir nas entrelinhas: o valor da escuta nas práticas de leitura (2012, pg. 60)

Ao final da roda, pensei como essa mediação de leitura foi a mais emocionante já feita por mim, pois permitiu não apenas às crianças refletirem sobre a vida da personagem, mas a mim também. E quando terminei as lágrimas rolavam pelo meu rosto. Cada depoimento das crianças, demonstrava a sua participação e o seu envolvimento nessa roda brilhantemente; suas perguntas representavam uma possibilidade de ampliar as diferentes formas de se ler um livro e de entender as culturas distintas que dialogam com a literatura, atribuindo sentido ao texto.

“— Essa foi a história mais linda que já ouvi!”. (Yuri, 10 anos Recife – PE)

Envolvidos pela atmosfera da roda de leitura, as crianças somente se deram conta do tempo quando anunciei o fim da mediação. Percebi o quanto a história de Malala tem um grande valor significativo tanto para a formação de leitores críticos e reflexivos ao se apropriar, conhecer e compreender a cultura, a política e a ideologia de um país através da história de uma personagem e do seu povo.

 

Quem é Malala?

malala

Malala Yousafzai começou sua campanha pela educação aos 11 anos de idade quando blogou anonimamente para a BBC sobre a vida sob o regime talibã no Vale Swat, no Paquistão. Inspirada pelo ativismo de seu pai, Malala logo começou a defender publicamente a educação das meninas – atraindo a atenção da mídia internacional e prêmios.

Aos 15 anos de idade, ela foi baleada pelo Talibã por falar. Malala se recuperou no Reino Unido e continuou sua luta pelas meninas. Em 2013 ela fundou o Malala Fund com seu pai, Ziauddin. Um ano depois, Malala recebeu o Prêmio Nobel da Paz em reconhecimento a seus esforços para ver cada menina completar 12 anos de educação gratuita, segura e de qualidade. Malala é formado em Filosofia, Política e Economia pela Universidade de Oxford.

Informações do Fundo Malala