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Eleições, política, livros e infâncias

Eleições, política, livros e infâncias

Há muitos livros para conversar sobre política com crianças. As eleições e a política impactam a vida de todos, inclusive a das crianças. Ter os livros como aliados para abrir conversas sobre o tema é uma ótima pedida.


Enquanto adultos e familiares discutem ao sabor das refeições ou dos docinhos de uma festa de aniversário, mas pode ser num almoço de domingo, numa pizzaria ou encontro de amigos, as crianças brincam quase que alheias à conversa acalorada sobre política e eleições, uma delas observa curiosa as bandeiras que subitamente aparecem nas janelas das casas e apartamentos numa mistura de copa do mundo e pleito eleitoral.

Quem não viveu algo parecido nos últimos meses é porque realmente está numa bolha e, vamos confessar que a paz reina nessa porção de convívio isolado em que os pares concordam ou têm as mesmas ideologias de vida. Mas a vida prática exige encontros, não estamos mais em isolamento social (ainda nesse período havia as redes sociais), é necessário transitar por diferentes lugares, conviver muitas vezes com quem pensa bastante diferente e sentimos até saudades quando as diferenças eram apenas de gosto musical, religião ou de time de futebol. Como no livro “Se os tubarões fossem homens” de Bertolt Brech, muitas vezes nos sentimos como o peixe que nada contra a maré.

As crianças brincam e a conversa polarizada dos adultos no momento é mesmo sobre política e, ao contrário do que muitos professam que não se deve falar sobre esse tema-tabu, é preciso conversar sobre algo que causa impacto na vida de toda nação, inclusive das crianças.

Lembro que na minha infância, nas eleições presidenciais de 1989, os santinhos e toda sorte de quinquilharia aos eleitores eram liberadas, de caneta, régua, calendário e impressos colecionados com o fervor da época e com a certeza que influenciariam na votação, algo que hoje é visto com horror. A polarização também acontecia e, nesse tempo, eu ficava perplexa quando meus coleguinhas gritavam o nome do oponente ao voto que os meus pais destinariam, voto que anos depois, nos deixa ainda mais perplexos e envergonhados. Essa lembrança me faz notar que as crianças brincam, mas não estão imunes, nem tudo passa desapercebido como muitos pensam.

Recentemente as listas de livros para conversar sobre política com crianças se proliferam e é bom que isso aconteça, afinal, diferente de um time de futebol que ganhando ou perdendo a vida segue quase que indiferente, quando se trata de política tudo muda. Ganhando este ou aquele candidato, a roupa que você veste, a religião que professa, o seu local de trabalho, se há trabalho e até a conversa que têm com os pares é uma questão política. Mas é importante também alertar que é saudável pensar diferente, por mais que nos cause espanto e a literatura pode ajudar nesse sentido. De fato, há livros que parecem nos escutar, dialogar e convidar a um mergulho interno, a conhecer outras possibilidades de vida, a ter empatia por personagens e por pessoas que de outro modo poderiam ser “Invisíveis” como nos lembra o título do livro de Tino Freitas e Odilon Moraes (2021).

A leitura literária evidencia a diversidade, a complexidade do homem e da sociedade, pode tornar-nos mais compreensivos e tolerantes, além disso, ao trazer o estrangeiro e o excluído, pode fazer-nos menos preconceituosos e indiferentes, por fim, ao mostrar outros tempos, lugares, povos e culturas, a obra literária pode nos tornar mais conscientes da relatividade de nossos próprios conceitos. José Saramago afirma “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não sairmos de nós” e a literatura nos dá essa possibilidade.

12 de outubro, o dia das crianças passou, mas a possibilidade de apresentar diferentes livros às crianças está presente a cada dia e que essa porta não se feche numa data, nem após as eleições.

 

Para saber mais, ouça o podcast Pode Ler, da A Taba: Pode ler livros de política com as crianças?

 

Referências Bibliográficas

 BRECHT, Bertolt; CRUZ, Nelson. Se os tubarões fossem homens. Curitiba (PR): Olho de Vidro, 2018. [48] p.
FREITAS, Tino; MORAES, Odilon. Os invisíveis. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2021, 56 p.
SARAMAGO, José. O conto da ilha desconhecida. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 64 p.